Bizarra.
Gorda como um tonel. Uma papada de frei franciscano glutao. Bochechas proeminentes, nariz parecendo um caroço de abacate, olhos dois pontinhos azuis - como cabeça de alfinete. Mãos gordas, como luvas de borracha cheias de ar, as unhas roídas e as pontas dos dedos assemelhadas ao soquete de pilar alho.
Cabelo liso, engordurado deixava as orelhas de abano em evidência
O pescoço grosso como uma coxa, e as coxas dois pilares como as pernas dos elefantes.
Usava óculos fundo de garrafa de lentes esverdeadas. De bullying não sofria, porque os colegas da escola temiam levar bofetadas. A professora a temia, também, ignorando-a completamente.
Maria Bolacha se julgava onipotente, dizia ser auto suficiente, não precisava de ajuda, todavia tinha dificuldades em solucionar os exercícios e os copiava de colegas. Estes não lhe negavam ajuda, menos por solidariedade, mas por medo.
Certo dia, Maria Bolacha escorregou em um piso molhado, caiu sentada e não conseguiu se levantar. Os colegas fizeram um círculo ao seu redor, apenas observando seu esforço. A coitada transpirava, resfolegava, girava para um lado e outro, tentava se ajoelhar com o apoio das mãos, contudo não conseguia erguer-se. Os funcionários homens tentaram, em vão, erguê-la do solo.
A diretora da escola decidiu chamar por socorro, da Defesa Civil ou do Corpo de Bombeiros. A Defesa Civil se apresentou trazendo um guindaste. Os homens a fixaram com correias e a içaram. Ela, com vertigem de altura, esperneava, parecia um pêndulo a despencar a qualquer momento. Lentamente foi baixando até chegar ao chão.Todos aplaudiram, não se sabe pelo êxito da operação ou pelo espetáculo circense oferecido por Maria Bolacha.
Ela se ausentou da escola por vários dias. Um boato corria noticiando que ela estava hospitalizada em estado de choque.
Quando retornou, aparentava ser outra pessoa. Permanecia gorda, todavia o seu temperamento estava mudado. Tentou aproximar-se dos colegas com humildade e delicadeza. Trouxe flores para a professora. Estava gentil e colaborativa. Todavia na escola todos estavam como se dizia ‘um pé atrás’. Precisavam de tempo para confirmar mudança tão radical em poucos dias.
Os anos passaram, a turma se dispersou, Maria Bolacha desapareceu.
Um dia, a TV anunciou uma nova novela. Uma atriz coadjuvante faria o papel de Dona Rotunda, a ex-colega Maria Bolacha, com seu nome verdadeiro - Natasha.
No final da novela, Dona Rotunda deveria explodir, todavia, em respeito aos direitos humanos, a Secretaria da Moral e dos Bons Costumes censurou a cena da explosão, substituída pela de Dona Rotunda subindo ao céu como um balão.