Estávamos descansando sob uma árvore, após uma disputa de cavaleiros e damas. Poderia ser dez horas da manhã, o sol se empertigava, prometendo uma tarde quente.
Marta estava adormecida e eu, recostado, admirava o horizonte quando a vi. Uma égua branca, crina e cauda cor de mel, parecia refletir a luz do sol. Levantei- me, fiz um sinal, ela veio galopando ao meu encontro. Aproximou-se, deixou que eu a tocasse. Em seguida, demonstrou inquietação, sacudindo a cabeça, agitada, porém sem demonstrar ameaça. Deu umas voltas em torno, movendo-se de um lado a outro.
Marta despertou, assustou-se com a cena. Disse-lhe que estava tudo bem, todavia o comportamento do animal era estranho. Parecia convidar-nos a segui-la.
Pegamos nossas montarias e acompanhamos a égua branca. Ela à frente nos guiava em certa direção, um descampado cujo solo era forrado de pedras. Cavalgamos por cerca de meia hora, quando a égua estancou. Deparamos com um cavalo malhado caído ao chão, ofegante. Apeamos. Dei uma olhada rápida e percebi que ele tinha as pernas fraturadas. Marta viu, um pouco mais afastada, um garoto caído no chão. Chamou-me. Corri até lá. Era um menino indígena. Tinha as pernas e braços arranhados.
A égua branca permanecia ao nosso lado, como se nos observasse.
Pedi a Marta para buscar socorro, enquanto eu permaneceria cuidando do garoto. Ela deixou o pacote de lenços umedecidos, passei a limpar as feridas do indiozinho. Ele me contou ter caído quando o animal tropeçou. Caíram ambos ao chão. Disse que tentou fazer o cavalo se erguer, contudo as pernas estavam quebradas. Falou que uma égua branca, desconhecida, surgiu de repente. Ele pediu que ela fosse buscar ajuda, ela entendeu e saiu em disparada.
Marta retornou com o pessoal e equipamento para levar o cavalo ferido e o menino.
Olhei ao redor, a égua branca havia desaparecido.