e agora José?
o vinho acabou
o cigarro apagou
meu gato sumiu
o tempo esfriou
e agora José?
e agora você?
você que é sem teto
que carece de afeto
você desconversa
você não protesta
e agora José?
está sem dinheiro
ralou dia inteiro
vagando sozinho
já não pode sonhar
já não pode amar
só pode sofrer
sorrir já não pode
o tempo esfriou
a carta não veio
o abraço não veio
o beijo não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou
e agora José?
e agora José?
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
‘Se você gritasse,
se você gemesse,
…
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro, José!’
‘Sozinho no escuro
um bicho-do-mato,
sem companhia
sem um simples barranco
para se encostar,
sem um corcel negro
que o leve pra longe’.
você foge, José!
José, para onde?’