andarilhando com as letras
conto contigo
Capa Meu Diário Textos E-books Fotos Perfil Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos
AO NADA FUI
                       para JJ

O chão abriu-se aos meus pés. Fui tragada e engolida.
Uma descida suave, como se flutuasse no espaço. Não havia luz, tampouco trevas. Uma neblina morna envolvente.
Não tenho ideia de quanto tempo permaneci em trânsito por aquela via inusitada. Eu estava aguardando o sinal para pedestres abrir. O sinal abriu e o chão também.
Meus pés tocaram o solo macio, e o entorno fracamente iluminado me pareceu familiar. Tive a sensação de um retorno sem que alguém estivesse à espera. Será que encontrarei por aqui Alice, ou Dorothy?
Que direção tomar? Teria um gato ou um coelho para ensinar o caminho? Ou quem sabe o Chapeleiro Maluco me tomaria pelas mãos?
Achei melhor sentar e aguardar que alguma coisa acontecesse. Vi uma cadeira de engraxate e me acomodei. O silêncio era enfadonho. Eu estava dentro de um nada.
Ao apoiar os pés notei que pisando sobre o apoio à direita o banco se movia para frente; parece um acelerador, pensei.
O banco possuía braços e observei dois botões, um de cada lado. Apertei o botão direito e o banco se elevou e ao apertar o esquerdo ele voltou ao solo.
Resolvi experimentar o inusitado veículo. Acelerei e subi. Decidi explorar o nada voando. A paisagem parecia imutável, apenas névoa morna; talvez eu estivesse dentro de uma bolha.
Segui em frente por algum tempo até vislumbrar o que pareceu ser uma parede, para evitar o choque desacelerei, porém a parede abriu como uma cortina de teatro.
A névoa morna adquiriu uma cor azulada e vislumbrei algumas formas geométricas.
Decidi estacionar o veículo e seguir caminhando por entre as formas que pareciam enormes caixas de sapatos, todas na cor azul.
Cheguei junto a uma das caixas e bati no que me pareceu ser uma porta e a caixa se abriu. Espiei pela abertura e vi dentro da caixa muitos selos.
Bati na caixa vizinha, a tampa se afastou e vi um monte de rolhas.
A próxima caixa continha o que me pareceu envelopes e cartas. Tentei ler o nome do destinatário do primeiro envelope da pilha e para minha surpresa o destinatário era eu mesma.
Consegui abrir o envelope que estava vazio. Os demais envelopes estavam em branco e sem remetente. As cartas estavam ilegíveis.
Desisti de investigar as caixas e quis retornar ao veículo, mas ele havia desaparecido.
Dei-me conta de estar com sede e caminhei mais alguns metros até encontrar uma geladeira. Abri a geladeira e fui puxada para dentro dela onde havia uma festa e as pessoas usavam máscaras iguais.
Um garçom me ofereceu um copo e se afastou. Provei a água e bebi.
Andei pelo salão e ninguém olhava para mim, como se eu estivesse invisível.
Nos fundos do salão havia um elevador, a porta estava aberta e entrei, havia apenas dois botões S (subir) e D (descer); apertei o S e o elevador subiu velozmente.
Quando a porta se abriu eu me vi na esquina aguardando o sinal para pedestres abrir. O sinal abriu. Atravessei.
Do outro lado o engraxate encostado em seu banco esperava fregueses.
Daguinaga

daguinaga
Enviado por daguinaga em 09/02/2024
Comentários
Capa Meu Diário Textos E-books Fotos Perfil Prêmios Livro de Visitas Contato Links