Revendo fotografias antigas ela se deparou com uma já bastante esmaecida. Era uma foto dos colegas de turma do Grupo Escolar. A saudade apertou forte e as lembranças afloraram.
Viu-se novamente correndo pelo pátio atrás de uma bola e, de repente, o tombo que ralou seus joelhos. Sentiu novamente a dor e a vergonha. Era o último ponto e a equipe perdeu o jogo por sua culpa. Quis morrer. As lágrimas se misturavam ao sangue do joelho. Estava só. Evitou encarar o time e receber as críticas.
Um bom pedaço de tempo ela ficou no pátio aguardando a dispersão do pessoal. Não queria falar nem ver pessoa alguma.
Decidiu pegar suas coisas deixadas num banco próximo da quadra. Levantou-se com dificuldade e caminhou até o banco. Ele estava lá, sentado e esperando por ela. E ela se deixou cuidar por ele. Nasceu então uma amizade entre eles. Essa amizade se transformou em amor adolescente.
Findo o período escolar eles se separaram. Cada qual tomou um rumo diferente. Ele foi para uma academia militar em outra cidade e ela passou no vestibular para medicina.
Passaram-se os anos sem notícias um do outro. Ela se casou, teve filhos e enviuvou.
Agora, empacotava suas coisas para a mudança.
Guardou a foto junto com as demais e retomou o trabalho.
Após a mudança e com a casa arrumada, ela aceitou o convite da filha para fazer uma viagem.
No aeroporto, enquanto esperava na fila de embarque ela o viu. Ele a viu também e se aproximou sorrindo. Abraçaram-se emocionados.
Ela lhe apresentou a filha e ele lhe apresentou seu acompanhante numa cadeira de rodas.
Houve um atraso do voo o que lhes permitiu conversar por mais tempo.
Assim ela soube que seu amor de infância era homossexual e que seu companheiro sofrera um acidente de carro.
Ela se lembrou então de tê-lo operado na emergência do hospital e ter salvado sua vida há alguns anos atrás.